O Grito

Minhas lágrimas caem sob meus pensamentos. Não há ninguém aqui para vê-las. Minhas lágrimas destruídas pelo olhar. Não me olhe. Assim saberá meus segredos. Minhas lágrimas gritando para saírem. O grito que eu nunca dei. O grito dentro de mim. Quando finalmente o soltei já não tinha som, só lágrimas. Me guardei demais para que não me vissem. Me segurei demais para não o fazer. Chorei. Ainda bem que o fiz. Não sentia mais nada.

Quantos gritos eu dei sem me deixar escutar? Quantas vezes morri para me permitir entrar? Quantas partes de mim ficaram e eu não vi? Já perdi a conta do quanto perdi nessa história. Dentro de mim há esse vão e nele ecoam todas as palavras que não disse. Todos os machucados que eu não pude dizer que doeram. Todas as vezes que eu não queria e me obrigaram. Todas as vezes que morri calada. Todas as vezes que tive medo e corri. Todos os hematomas que eu escondi. Todos os gritos que eu não dei. 

Já não sei mais quantas vezes tive que morrer para me deixar estar com os outros. Quanto de mim se foi? Nunca saberei. Quanto ficou com eles? Não sei. Me quero de volta. Me quero viva e a cada caco que se perdeu não há como colar novamente. Sou um vaso quebrado que caiu muitas vezes e ninguém ouviu. 

Esse grito em vão. Esse som que não existe. É mental. É poderoso. Machuca muito mais do que se pode imaginar. Guardei por tanto tempo que agora as lágrimas descem com toda velocidade, como se estivessem esperado muito tempo para saírem. As lágrimas caem e eu as deixo lavarem minha alma. Elas são o som de que eu precisava. Elas são tudo que eu precisava sentir.

Grito.

Autora: Maria Clara Alves Matos.



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