99 dias...
Há um ano,
me pediram para
(re)ver
a minha cidade.
Encontrar pequenos pontos
que nunca havia enxergado.
(Re)vi.
Naquele momento,
se alguém me dissesse
que dali um ano
não poderíamos ver
aquela cidade,
eu iria rir.
Pareceria estranha
a ideia
de não poder
sair de casa.
Há um ano,
me pediram para
inter(ver)
na cidade,
de maneira que
a efemeridade
reinasse.
Coloquei girassóis
nos postes.
"Floresça-se!"
Se naquele momento,
me falassem
para aproveitar,
eu teria aproveitado.
Naquele dia,
aproveitei.
Há 99 dias,
entrei em casa
e sair não me é uma opção.
Há 99 dias,
faço de minha casa,
minha cidade.
Intervenho.
Revejo.
Por muitas vezes,
não é fácil ficar dentro.
Em alguns dias,
florescer é difícil.
Outros dias,
parece fácil
levar tudo
sem pensar no futuro.
Mas,
existem dias,
que é inevitável pensar
no mundo lá fora
e em todo caos que há.
Há 99 dias,
venho procurando
caminhos.
Procurando opções
para seguir e,
neste momento,
para me salvar.
Há 99 dias,
qualquer texto
que tenho escrito
é para me livrar
da angustiante missão
de assistir a história
e tornar toda essa aflição
em algo que eu consiga lidar.
Já não vejo a cidade.
Da minha janela,
há um grande espelho.
Me vejo todos os dias,
mas olhar para fora
é o mesmo que olhar
para dentro.
Me abstive de ver
o mundo
por outros olhos
por um tempo.
Observo-o
pelas janelas laterais.
Da cozinha,
vejo os carros.
Da sala,
vejo outra janela.
Nos quartos,
um espelho.
Mas,
ainda assim,
(re)vejo.
Autora: Maria C. A. Matos
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