Resposta (Não Oficial)
X,
Após quatro anos, finalmente li sua carta de despedida. Não sabia que iria doer tanto me lembrar dos teus gritos, dos teus abraços, dos teus cortes, das tuas mãos me seguindo enquanto eu chorava. Achei, também, outras cartas que o escrevi e não havia mandado. Eu pedia desculpas por coisas que não eram minha culpa. Eu pedia perdão por não estar bem, sendo que quem me deixava mal era você. Eu era tão nova e você insistia em me chamar de madura. Tu tinhas 17 e eu 12. O quão madura eu conseguia ser?
Tu me abraçavas e conversava comigo como se fossémos iguais, mas todas as vezes que eu lhe contrariava tuas ameaças vinham para cima de mim. Todas conversas com meus amigos eram transformadas em cartas de suicídio ou em cortes no seu braço, eu que fazia aquilo com você, não era? Quando o fim chegou, me senti estranha, como se um nó tivesse se soltado de meu corpo, mas alguma corda ainda me prendia a você. Demorei para sentir novamente, o que veio após você conseguiu ser pior. Tu sempre dizia que eu nunca iria achar um homem melhor que você e fiz de tudo para que ele fosse, porém o pesadelo só aumentou.
Você se lembra da primeira vez que os ematomas apareceram na minha pele? Você se desculpou e disse que nunca mais iria fazer aquilo comigo, mas é por quê "eu te tirava do sério", não é mesmo? Depois daquela vez, outras vieram e você aprendeu a fazer as coisas escondido, os ematomas não apareciam mais para todos, só para mim, quando, em meu íntimo, tirava as roupas.
Eu nunca havia chorado pelo nosso fim. Namoramos por um ano e seis meses, até o dia em que você disse que não me aguentava mais. Hoje, depois de quatro anos, vejo o quanto precisava chorar. Essas dores você não possui. Essas dores viveram em mim por anos. Essas dores que me tiraram as forças quando o Outro estava em cima de mim e não o consegui tirar. Chorar me fez bem, fez perceber que você me deixou mais cicatrizes do que as superficiais, mais profundas e complexas.
X, não queria dizer teu nome. Tudo sobre você me paralisa. Me lembro que a última vez que o vi, travei, chorei, vomitei, corri o quanto pude, mas tu ainda estava lá, vivo. Não havia se matado como sempre me dissera que faria se algum dia eu o deixasse e que essa seria minha maior culpa.
Hoje sou uma mulher diferente. Acredito que homens como você existem aos montes nesse mundo, que várias mulheres já conheceram algum X na vida delas. Hoje reconheço o quão doente essa relação foi. Hoje, com 17 anos, vejo o quanto uma pessoa de doze pode ser imatura e ingênua no ponto de acreditar em alguém mais velho. Foi uma relação de poder, teu poder sobre uma pessoa nova e carente.
X, tuas marcas ainda existem em mim, nunca se esqueça disso.
Mas, hoje sei que a melhor pessoa para me curar, sou eu.
Adeus.
Maria Clara.
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